sábado, 15 de dezembro de 2007

Sobre as Confraternizações


Devo dizer que a preguiça tem sido imensa. Ou há tão pouco do que se escrever?

Bem. Chega o fim de ano e chegam as confraternizações. Tempo de comemorar o... O que mesmo? O ano que se finda? As conquistas? Ou comemoramos apenas o fato de termos sobrevivido ao ano que termina? A última hipótese parece-me ser a mais plausível.

Mas vamos ao texto, pois se cheguei até aqui é porque estou escrevendo algo.

Sou convidado a participar da confraternização da Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Embora continue ocupando o prédio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, já faço parte, pelo menos teoricamente, daquela outra. Pelo visto, sou um fiscal bem desenvolvido. Ou o contrário. Com tanto desenvolvimento, onde é que esse mundo vai andar? Até porque parado já está mesmo, embora Galileu tenha afirmado que ele se move...

Pois bem. O novo secretário quer conhecer-me. Claro que não foi um convite particular mas, como quem está escrevendo sou eu, sinto-me na obrigação de relacionar tudo o que escrevo a mim mesmo.

Voltando ao assunto. O novo secretário quer conhecer-me. E, ao mesmo tempo, quer confraternizar comigo. Afinal, é isso que o evento é: confraternização.

Segundo o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, confraternizar significa conviver fraternalmente, ser dos mesmos sentimentos, crenças ou idéias de outrem. Fraternizar significa unir-se estreitamente, como entre irmãos.

Uma confraternização seria, portanto, uma comemoração entre pessoas que são dos mesmos sentimentos, crenças e idéias e que são unidas como se fossem irmãos.

Bom, certamente somos das mesmas crenças, idéias e sentimentos, como se fôssemos irmãos, eu e o Secretário da SDU. Se assim não fosse, porque confraternizaríamos?

Se não somos fraternos, porém, restam-nos duas alternativas: ou queremos ser fraternos ou queremos fazer média e,portanto, somos ambos mentirosos.

De minha parte, eu não sei se quero ser fraterno nem comigo mesmo. Há dias que mal me suporto e não me queria nem como parente distante da tia da avó da minha vizinha, quanto mais ser meu irmão. Portanto, duvido da minha vontade de ser fraterno com o senhor Secretário da SDU. Quanto a fazer média, acho que já tenho mentiras demais na minha ficha. São tantas que acho que deverei fazer um estágio probatório antes mesmo de ser admitido no inferno. Deus me livre. Das mentiras, é claro. Pois do inferno nenhum fiscal escapará mesmo.

Quanto ao nosso senhor Secretário da SDU, eu creio que ele quer mesmo ser meu irmão. Certamente, já demonstrou que partilha das mesmas idéias que eu. Por isso, envidou todos os esforços para que se realizasse o concurso de acesso da maneira mais abrangente e organizada possível. Certamente também tem envidado esforços junto ao nosso senhor Prefeito para que o nosso salário tenha o reajuste devido. E, se quer realmente ser meu irmão, deve ter execrado publicamente aquelas 900 e poucas demissões, bem como o extenuante horário de trabalho das Auxiliares de Desenvolvimento Infantil (ADI’s).

A bem da verdade, se o nosso senhor Secretário da SDU quer ser meu irmão ele não deveria ser Secretário da SDU. Ele deveria estar cá mais embaixo, dividindo o pão dos meus dias comigo. Nada contra ele ser Secretário. Mas se essa é a escolha dele, não há porque querer confraternizar comigo, por nada haver para confraternizarmos. Não somos irmãos. Nem queremos ser irmãos. E, como estou tentando a todo custo não aumentar minha cota de mentiras, não vou fingir que quero ser irmão de alguém com quem não me sinto bem em dividir o pão dos meus dias.

Tenho dito. Ou escrito.

sábado, 20 de outubro de 2007

Um quase tema de um quase concurso.

Fui convidado por mim mesmo a escrever um trabalho sobre literatura, para um concurso chamado Rumos da Literatura.

Logo de início decidi escrever sobre crítica literária. Dei-me conta, então, que não sabia nada sobre crítica literária: o que ela é, como se faz, o que se levar em conta quando se faz a crítica.

Nem sei mesmo o que se pode criticar: critica-se o texto, o livro, a obra de um autor, o autor? A crítica se diferencia de acordo com o gênero literário: prosa, poesia?

O que há para se criticar na literatura?

Eu começaria fazendo uma análise do Dom Casmurro, de Machado de Assis. Analisaria o estilo de sua escrita, a sua capacidade de contar uma boa história com fluidez. Aliás, o que se espera de um escritor que se dispõe a escrever em prosa não é a capacidade de contar uma boa história?

Penso agora em Saramago. Quando li trechos de Memorial do Convento, em uma apostila de cursinho pré-vestibular, minha atenção foi direcionada para a originalidade de Saramago em escrever sem parágrafos, de tal maneira que obrigava-me a prestar mais atenção ao que estava sendo dito a fim de perceber quem estava falando naquele momento. Creio, porém, que se esse estilo não permitisse a Saramago contar uma boa história ele não seria um bom escritor.

Eu creio que o segredo da narrativa está em bem contar uma história. Não histórias boas ou ruins: há bons contadores de história e contadores de história medíocres.

Mas voltemos ao meu problema inicial: aprender algo sobre crítica literária. Fiz a primeira coisa que faço quando me deparo com problemas de tal complexidade: fui ao banheiro. Quer dizer, na verdade uso o banheiro para problemas também complexos, mas de uma complexidade de outra natureza. Fui ao sebo e comprei todos os três livros disponíveis sobre crítica literária no sebo. Procurei fugir de críticas e análises a autores, obras e períodos. Quis uma visão geral, de início.

Comecei a ler Crítica Literária no Brasil, de Wilson Martins. Dos três, pareceu-me o mais importante e completo, pois tem muitas páginas e vem em dois volumes. É muita tinta e papel. Por tabela, ganhei um problema secundário: encontrar o volume dois do livro. Secundário porque veio depois do principal, que é aprender algo sobre crítica literária, mas na ordem das coisas torna-se a prioridade, principalmente se o livro for bom. Pensando bem, essa história de escrever livros em volumes é uma idéia interessante e respeitosa para com o leitor: se não gostarmos do primeiro volume, basta não comprar o segundo (ou terceiro, caso haja). Ao passo que o sujeito, quer dizer, o escritor pode ser assim meio descuidado e enfiar 1000 páginas de uma vez no leitor e esse que se vire.

Como todo bom livro de crítica, ele já começa criticando um senhor chamado Alceu Amoroso Lima sobre uma querela relativa ao assunto do início histórica da crítica literária brasileira. Esse tema dos começos é mesmo uma complicação. Fico pensando comigo: se nem sei quando vou começar as minhas coisas, quando mais saber quando começaram as coisas dos outros. Mas eu admiro essas pessoas de coragem que tentam a todo custo descobrir esses inícios.

Pensei em pular esse trecho específico. Para o que pretendo fazer eu não precisarei saber quando começou a crítica literária brasileira. Interessa-me mais fazer parte dela. Ou, mais poeticamente, não me interessa quando ela começou, mas sim que ela continue, senão como farei parte dela? Posso fazer parte de algo que ainda não começou, mas nunca daquilo que já terminou.

Essa questão dos inícios aponta para um problema dos livros que tratam sobre a generalidade de um tema: geralmente trazem páginas e mais páginas de coisas que não nos interessam. Deveriam criar livros desmontáveis, ou melhor, montáveis: escolheríamos os capítulos que nos interessam e montaríamos o livro.

Isso traz a questão da essência: qual a essência da crítica literária? O que um livro que trata de crítica literária deveria trazer a fim de não se descaracterizar? Eu dispensaria o histórico da crítica. Ficaria com os seus elementos. Não sei se há isso de elementos da crítica literária, pois ainda não avancei tanto no citado livro. Mas há de haver. Em todo livro jurídico que trate da generalidade de uma disciplina há elementos. (...)

De modo que, no fim das contas, ficou-se apenas o desejo. O desejo e esse texto. E, na melhor das hipóteses, uma vereda ainda a ser explorada. Do concurso nem tenho mais notícia.

sábado, 13 de outubro de 2007

Vida sem fim

Hoje morreu Paulo Autran. Não tenho muito o que falar sobre ele, pois não sou fã nem conhecedor de teatro, nem tampouco da carreira dele. Porém, assistindo a alguns depoimentos de atores sobre ele uma frase de algum deles chamou-me a atenção. A pessoa em questão (não lembro o nome) dizia que agora ele precisava descansar, pois havia trabalhado muito (60 anos de carreira) e disse mais: uma vida precisa da morte para ser completa. Fiquei pensando nessa frase e ela faz um sentido enorme pra mim. Vez por outra, todo ser humano normal pensa que talvez pudesse viver para sempre. Alguns na verdade vivem suas vidas como se pudessem mesmo viver para sempre. E vez por outra, quando a morte nos encontra nas esquinas da vida, principalmente quando quem se vai é jovem, tem-se a impressão que a vida da pessoa ficou incompleta, como se a morte houvesse impedido que a pessoa completasse sua vida. A morte vem e deixa a vida incompleta - é o que nos parece. É como se sempre houvesse mais um pouco de vida para ser vivida e a morte impedisse esse mais-de-viver. Mas de repente me bate a impressão de que a vida, na verdade, se completa como a morte. É como se sem a morte a vida nunca se completasse, nunca fosse inteira. Fica a impressa de que se a vida não tivesse fim nunca poderíamos perceber o fim da vida...