Fui convidado por mim mesmo a escrever um trabalho sobre literatura, para um concurso chamado Rumos da Literatura.
Logo de início decidi escrever sobre crítica literária. Dei-me conta, então, que não sabia nada sobre crítica literária: o que ela é, como se faz, o que se levar em conta quando se faz a crítica.
Nem sei mesmo o que se pode criticar: critica-se o texto, o livro, a obra de um autor, o autor? A crítica se diferencia de acordo com o gênero literário: prosa, poesia?
O que há para se criticar na literatura?
Eu começaria fazendo uma análise do Dom Casmurro, de Machado de Assis. Analisaria o estilo de sua escrita, a sua capacidade de contar uma boa história com fluidez. Aliás, o que se espera de um escritor que se dispõe a escrever em prosa não é a capacidade de contar uma boa história?
Penso agora em Saramago. Quando li trechos de Memorial do Convento, em uma apostila de cursinho pré-vestibular, minha atenção foi direcionada para a originalidade de Saramago em escrever sem parágrafos, de tal maneira que obrigava-me a prestar mais atenção ao que estava sendo dito a fim de perceber quem estava falando naquele momento. Creio, porém, que se esse estilo não permitisse a Saramago contar uma boa história ele não seria um bom escritor.
Eu creio que o segredo da narrativa está em bem contar uma história. Não histórias boas ou ruins: há bons contadores de história e contadores de história medíocres.
Mas voltemos ao meu problema inicial: aprender algo sobre crítica literária. Fiz a primeira coisa que faço quando me deparo com problemas de tal complexidade: fui ao banheiro. Quer dizer, na verdade uso o banheiro para problemas também complexos, mas de uma complexidade de outra natureza. Fui ao sebo e comprei todos os três livros disponíveis sobre crítica literária no sebo. Procurei fugir de críticas e análises a autores, obras e períodos. Quis uma visão geral, de início.
Comecei a ler Crítica Literária no Brasil, de Wilson Martins. Dos três, pareceu-me o mais importante e completo, pois tem muitas páginas e vem em dois volumes. É muita tinta e papel. Por tabela, ganhei um problema secundário: encontrar o volume dois do livro. Secundário porque veio depois do principal, que é aprender algo sobre crítica literária, mas na ordem das coisas torna-se a prioridade, principalmente se o livro for bom. Pensando bem, essa história de escrever livros em volumes é uma idéia interessante e respeitosa para com o leitor: se não gostarmos do primeiro volume, basta não comprar o segundo (ou terceiro, caso haja). Ao passo que o sujeito, quer dizer, o escritor pode ser assim meio descuidado e enfiar 1000 páginas de uma vez no leitor e esse que se vire.
Como todo bom livro de crítica, ele já começa criticando um senhor chamado Alceu Amoroso Lima sobre uma querela relativa ao assunto do início histórica da crítica literária brasileira. Esse tema dos começos é mesmo uma complicação. Fico pensando comigo: se nem sei quando vou começar as minhas coisas, quando mais saber quando começaram as coisas dos outros. Mas eu admiro essas pessoas de coragem que tentam a todo custo descobrir esses inícios.
Pensei em pular esse trecho específico. Para o que pretendo fazer eu não precisarei saber quando começou a crítica literária brasileira. Interessa-me mais fazer parte dela. Ou, mais poeticamente, não me interessa quando ela começou, mas sim que ela continue, senão como farei parte dela? Posso fazer parte de algo que ainda não começou, mas nunca daquilo que já terminou.
Essa questão dos inícios aponta para um problema dos livros que tratam sobre a generalidade de um tema: geralmente trazem páginas e mais páginas de coisas que não nos interessam. Deveriam criar livros desmontáveis, ou melhor, montáveis: escolheríamos os capítulos que nos interessam e montaríamos o livro.
Isso traz a questão da essência: qual a essência da crítica literária? O que um livro que trata de crítica literária deveria trazer a fim de não se descaracterizar? Eu dispensaria o histórico da crítica. Ficaria com os seus elementos. Não sei se há isso de elementos da crítica literária, pois ainda não avancei tanto no citado livro. Mas há de haver. Em todo livro jurídico que trate da generalidade de uma disciplina há elementos. (...)

Um comentário:
Meu caro amigo Leandro,
O que a acabei de ler, na realidade, entendi como uma das mais interessantes crônicas que já li. Por ironia do destino precede a um texto a respeito da morte de Paulo Autran, não tenho dúvidas, esta crônica na interpretação do agora já saudoso Paulo Autran seria uma verdadeira obra de arte.
Continue escrevendo seus pensamentos, com certeza, são muito interessantes e gostosos de ler, talvez seja porque exprimam toda a riqueza do seu interior.
Um abraço do amigo Chico Brito.
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